segunda-feira, 23 de abril de 2007

FACULDADE TEOLÓGICA CRISTÃ DO BRASIL – F.T.C.B.
Literatura Cristã Primitiva
Denes Izidro, Professor ©[1]

AS CARTAS DE CLEMENTE DE ROMA[2]


1. Primeira Carta de Clemente Aos Coríntios

1.1. Tradição

· O texto de 1Clem aos Coríntios foi primeiro descoberto no códice Alexandrino (V d.C.), localizado após o Apocalipse de João e juntamente com 2Clem; no entanto, nesse códice está faltando uma folha que continha o texto de 1Clem 57.7-63.4. O texto grego completo apareceu com a descoberta do Códice Hierosolimitano (o mesmo que contém o texto grego da Didaquê). O texto também aparece com 2Clem, entre as católicas, em um códice de papiro copta (V/VIII) da biblioteca da Universidade de estrasburgo, juntamente com fragmentos de Tiago e João e um NT sírio. Além disso, 1Clem também foi publicado em duas traduções latinas, uma siríaca e duas coptas.
· Há também inúmeras citações de 1Clem em Clemente de Alexandria. Essa carta também foi usada por Policarpo de Esmirna e é mencionada por Dionísio de Corinto ma metade do II século. 1Clem deve ter tido ampla divulgação já época em que a carta foi redigida (fim do I século d.C.).
· A alta estima que gozava esse documento na igreja antiga se reflete no fato de que 1Clem integrou por certo tempo o cânon do NT, tanto na igreja egípcia quanto na igreja síria.
1.2. Autoria e Data do Escrito

· Não obstante 1Clem se apresente como uma correspondência da igreja de Roma e não como tendo sido escrita por uma pessoa específica (Intr), como Clemente de Roma, por exemplo, ela deve ter sido escrita por uma mesma pessoa, com o demonstra sua uniformidade de estilo e vocabulário.
· A tradição da igreja antiga parece ser unânime na aceitação de que Clemente de Roma é o autor desta carta, pois os testemunhos mais antigos da igreja apontam nesta direção, como as inscriptiones dos antigos manuscritos, o testemunho de Eusébio, de Dionísio e de Irineu.
· Clemente era, muito provavelmente, secretário e representante de Roma e quiçá até bispo[3] ou presbítero. Não dispomos de detalhes sobre ele. Eusébio data sua gestão em Roma de 92-101 (H.E.III.15.34). Orígenes o identifica com o companheiro de Paulo do mesmo nome em Fl.4.3.
· 1Clem tem sido datado para o final do governo de Domiciano (81-96) ou início do governo de Nerva (96-98). Mais especificamente 96-97 d.C., logo após a expulsão dos filósofos de Roma por Domiciano. Isto porque o texto faz referências a tribulações sobre Roma que devem fazer alusão às perseguições domicianas (1.1). Além disso, segundo Eusébio (H.E.III.16) os problemas em Corinto surgiram sob o governo de Domiciano.

1.3. Motivo da Redação

· O motivo que deu origem à carta endereçada a Corinto foi a destituição dos presbíteros por alguns membros jovens da igreja local (47.6).[4]
· São muito poucas as informações do escrito sobre essa revolta e Clemente apenas diz que essa dissensão havia perturbado profundamente a igreja de Corinto, mas não informa o leitor sobre as causas que a provocaram.
· Portanto, a intervenção da igreja cristã de Roma através desta carta na igreja de Corinto fora motivada, como já esboçado, pela substituição de presbíteros por indivíduos mais jovens (1.1;3.3;44.3s), o que deve ter provocado alguma agitação (Vielhauer,2000).

1.4. Natureza do Escrito

· O volume e espécie do escrito força-nos a perguntar por sua forma literária (65 capítulos).
· 1Clem tem a forma literária de uma carta de fato: Pré-escrito (Intr) e conclusão epistolar (65.1,2).[5] Ela menciona a igreja de Roma como remetente e a igreja de Corinto como destinatária.
· Segundo Dibelius, uma ligação de escrito de ocasião com carta artística, assim como Efésios e I Pedro, isto é, “tratados em forma de carta” (Vielhauer,2000).
· 1Clem, contudo, se distingue das cartas católicas, pois é endereçada a uma única comunidade cristã, não a um endereço geral, tendo assim um único motivo concreto e finalidade. Portanto, 1Clem é de fato uma carta autêntica. A extensão do escrito, a quantidade de digressões, a configuração artística e retórica não alteram o fato de que ela é uma carta autêntica, e não fictícia ou meramente artística (Vielhauer,2000).
· 1Clem usa recursos da retórica contemporânea com muito mais intensidade do que Paulo e Hebreus, e, com maior habilidade, maneja as figuras lingüísticas da prosa artística e da diatribe, perguntas retóricas e imperativos, antíteses, uso de recursos sonoros e recursos semelhantes.
· Uma série de paradigmas (exemplos) ilustram as mortais conseqüências do ciúme e inveja (4-8), os bons efeitos da fé e hospitalidade (9-12), a admoestação à humildade e ao pacifismo (16-18), a admoestação ao arrependimento (51-53),etc.
· 1Clem é, sem dúvida, uma Parênese, isto é, uma coleção de admoestações à igreja de Corinto. O material que o autor usa nas seções parenéticas são: a doutrina dos dois caminhos, especialmente os catálogos de vícios de virtudes, as listas de deveres domésticos e normas da comunidade.
· Das Escrituras (AT) procedem coleções de exemplos de vícios e virtudes; da tradição cristã, uma coletânia de ditos de Jesus é citada duas vezes (13.2;46.8);[6] também tira exemplos do passado cristão (o martírio de Pedro e Paulo [5;6])[7] e da mitologia pagã (6.2;25.1-5);[8] além disso, 1Clem usa uma coleção das cartas de Paulo e Hebreus, como também materiais querigmáticos e litúrgicos da igreja do autor, dentre eles uma longa oração rogatória (59.3-61.3).
· 1Clemente recorre também a tradições pagãs, mais exatamente a uma descrição da criação do mundo pela sabedoria de Deus (20.1-11), que pode ter chegado ao autor por meio do judaísmo da diáspora (Köester,2005).

1.5. Valor de 1Clemente

· 1Clem, uma carta da igreja de Roma à comunidade cristã de Corinto, através da qual ela interfere em assuntos internos dessa comunidade, é um documento político-eclesiásico de importância histórico-eclesiástica de longo alcance (Vielhauer,2000).
· 1Clem oferece uma noção importante sobre a piedade das comunidades cristãs nesse período. O que está carta traz deve ser aquilo que domina a liturgia, a doutrina e a pregação das igrejas primitivas. Clemente está convencido de que este tipo de piedade e conduta deve ser o fundamento para a unidade de cada congregação local e de toda a igreja universal.

1.6. Conteúdo Esquemático (Vielhauer,2000)

Pré-escrito
Proêmio: Motivo da carta, a revolta em Corinto. Louvor do antigo estado das coisas da comunidade e recriminação do atual 1-3

Parte I (4-39): Parêneses

1. Contra ciúme e inveja – 4-8
a) Exemplos vétero-testamentários (4), cristãos (5) e gerais (6)
b) Admoestações penitenciais com exemplos do AT (7;8)
Segunda Carta de Clemente aos Coríntios
2. Modelos vétero-testamentários para fé e hospitalidade - 9-12
3. Admoestações à humildade e ao pacifismo – 13-19.1
a) Admoestação e fundamentação (13-15)
b) Jesus como modelo (16)
c) Modelos vétero-testamentários (17-19.1)
4. Admoestação à unidade e harmonia na comunidade – 19.2-22
a) A harmonia do cosmo como modelo (19.2-20.12)
b) Aplicação à vida da comunidade (21;22)
5. Contra dúvida referente à ressurreição – 23-36
a) Advertência contra a dúvida (23)
b) Provas da ressurreição (da natureza 24, da mitologia – pássaro Fênix – 25, da Escritura 26;27)
c) Admoestação a uma conduta de vida com relação ao juízo final (28-36)
6. Admoestação à concórdia e à unidade – 37-39
a) Modelos da ordem: exército romano 37.1-4; o corpo humano, o corpo de Cristo 37.5-38
b) Sujeição mútua (39)

Parte II (40-58): Posicionamento face às desavenças em Corinto

1. Instrução de toda a comunidade sobre a ilegalidade da demissão de presbíteros – 40-50
a) A ordem conforme a vontade divina em culto, hierarquia e sucessão (40-44)
b) Conclusões para a comunidade de Corinto (45-50): Reconhecimento da injustiça (45), recondução ao cargo dos destituídos (46-48), restabelecimento da concórdia e do amor (49; 50)
2. Instrução aos líderes do tumulto – 51-58
a) Admoestação penitencial (com exemplos) (51-53)
b) Convite à emigração espontânea (com exemplos) (54-55)[9]
c) Sujeição ao castigo da Igreja e aos presbíteros (56-58)

Conclusão
1. A oração geral da igreja (59-61)
2. Resumo do conteúdo da carta (62)
3. Recomendação dos portadores (com oração) (63.1-65.1)
4. Saudação final (65.2)

2. Segunda Carta de Clemente

2.1. Tradição

· Sempre anexo a 1Clem, a Segunda Carta de Clemente ficou preservada apenas em três manuscritos: no códice Alexandrino (A), no qual só temos o texto até 12.5, no códice de Jerusalém (H) e em um manuscrito sírio (S).
· Este escrito é denominado de “Segunda Carta de Clemente” (para Corinto) apenas nas inscriptio em H e S, e pela subscriptio de S; no códice Alexandrino (A) ele não tem título.
· Na tradição tardia da igreja, 2Clem foi relacionada com 1Clem e nestes manuscritos preservados foram copiadas juntas. Acresce-se a isso o fato de que as traduções siríacas do Novo Testamento também transmitiram 1Clem e 2Clem juntos.
· 2Clem deve ter circulado anonimamente no início, e depois por causa de sua popularidade foi atribuído a Clemente de Roma, de modo a quase ser canonizado no Egito e na Síria.

2.2. Autor, Data e Ocasião

· O autor de 2Clem não parece ser o mesmo de 1Clem, uma vez que o estilo e os pensamentos são muito diferentes um do outro.
· A atribuição tradicional do escrito a Clemente de Roma, provável autor de 1Clem, portanto, é precária: 2Clem nada diz sobre o seu autor e nem faz referência a 1Clem. O título “Segundo Clemente” só aparece de fato nos colofões dos manuscritos.
· Além disso, Eusébio afirma que não sabia de nenhum escritor antigo que conhecesse 2Clem: “Digno de nota é o fato de que se diz que existe ainda uma segunda carta de Clemente; mas sabemos que ela não é reconhecida do mesmo modo como a primeira, porque, quanto é do nosso conhecimento, também os antigos não fizeram uso dela”.[10]
· Como 1Clem foi escrita de Roma para Corinto, presumiu-se que 2Clem fora composta em Roma ou em Corinto, senão também em Alexandria. Contudo, os argumentos em favor de qualquer uma destas cidades não são conclusivos. Mas como 2Clem deve sua preservação à ligação com 1Clem, desde cedo, o mais imediato é procurar seu surgimento lá onde essa ligação foi estabelecida, isto é, no Egito[11] ou na Síria (Vielhauer,2005).
· Uma vez que 2Clem parece não conhecer ainda um cânon neotestamentário e assim faz citações de tradições apócrifas[12], admite-se que sua data de composição deve situar-se em meados do II século d.C.

2.3. Identidade Literária, Tese e Valor

· 2Clem não deve é uma carta, pois faltam nele todos os elementos característicos de uma carta: não contém introdução com autor e endereço nem saudações finais.[13]
· É provável, como aceito pela maioria, que esse seja uma homilia ou sermão escrito com o fim de ser lido no culto. Neste caso, o sermão tem o objetivo de exortar os ouvintes a tomarem em consideração a palavra da Escritura, provavelmente lida antes do sermão, o qual não deve ser uma explicação desta (Vielhauer,2005).[14]
· 2Clem se apresenta como um grande sermão sobre arrependimento ou penitencial dirigido a cristãos. Se isso for assim, então temos o mais antigo sermão cristão primitivo preservado, em 2Clem.
· As fontes autoritativas de 2Clem são “a Escritura” e “o Senhor”: 2Clem cita muitos textos do AT, especialmente dos profetas, alguns dos quais também são citados pelos Evangelhos sinópticos.[15] Da tradição evangélica faz uso apenas de ditos do Senhor, os quais ele parece tirar de fontes escritas; na verdade, pode-se demonstrar estreitos contatos destes ditos de 2Clem com Mateus e Lucas, mas não a ponto de concluir de fato seu uso; é provável que esteja fazendo uso de uma coleção escrita de ditos do Senhor (Vielhauer,2005).[16]
· Curiosamente, 2Clem parece não ter conhecimento das epístolas de Paulo (Köester,2005).[17]
· A mais importante característica de 2Clem é o apelo ao arrependimento e a admoestação à prática de boas ações ante a perspectiva do julgamento futuro (Köester,2005).
· É a mais antiga pregação cristã preservada (Vielhauer,2005).
· E dá indícios da organização eclesiástica no II século d.C.

2.4. Conteúdo Esquemático (Vielhauer,2005)

1. A grandeza da salvação em Cristo – 1,2
2. Admoestação para a “contra-recompensa” – 3-8
a) A confissão atual 3,4
b) Êxodo “deste mundo”, o qual é somente hospedagem passageira e estadia de viagem 5,6
c) Realização do compromisso batismal 7,8
3. Polêmica contra dúvida sobre a ressurreição da carne e o juízo final 9-12
4. Admoestação à penitência 13-18
a) Motivação com relação aos não-cristãos 13
b) Motivação com relação à natureza da Igreja 14
c) Motivação com relação ao pregador e ao ouvinte 15
d) Penitência como dever cristão permanente 16-18
5. Admoestação final à penitência, à disposição para o sofrimento e expectativa da glória celestial 19,20.

[1] Denes Izidro é Pastor evangélico e estudioso de Novo Testamento, desenvolvendo pesquisas na área de Bíblia e literatura cristã primitiva canônica e não-canônica. Além disso, é também professor de Língua, Literatura, Contexto e Teologia do NT, e outras disciplinas na área de Bíblia e seu contexto histórico-literário, na Faculdade Teológica Cristã do Brasil (DF). © todos os direitos autorais desta obra devem ser preservados.
[2]Vielhauer,Phillip.História da literatura cristã primtiva.Academia Cristã: São Paulo; Koester,Helmut.Introdução ao novo testamento – História e literatura do cristianismo primitivo.Paulus: São Paulo;VV.AA.Padres apostólicos.Paulus: São Paulo.
[3] Köester,op.cit., discorda que Clemente tenha sido bispo de Roma.pg.309. não obstante Irineu o ateste (Haer III.3.3.).
[4] 47.6: “6Uma vergonha, meus caros, uma vergonha muito grande e indigna de uma conduta em Cristo ouvir-se que a Igreja dos coríntios, tão inabalável e antiga, se rebele contra os presbíteros por causa de uma ou duas pessoas.”
[5] Introdução: “A Igreja de Deus estabelecida transitóriamente em Roma à Igreja de Deus estabelecida transitóriamente em Corinto, aos eleitos santificados na vontade de Deus, por Nosso Senhor Jesus Cristo: que a graça e a paz vos sejam dadas em plenitude da parte de Deus todo-poderoso, por Jesus Cristo.”
65.1,2:“1Aos nossos enviados, Cláudio Efebo e Valério Bito, junto com Fortunato, enviai-os rapidamente de volta na paz e com alegria, para que logo nos tragam notícias sobre a harmonia e paz, pela qual tanto rezamos e suplicamos e assim, mais depressa, nos alegremos da boa ordem entre vós. 2A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja convosco e com todos os eleitos de Deus, através Dele por toda a parte. Por Jesus, seja dada a Deus glória, honra, poder e majestade, o trono eterno, desde todos os séculos e para todos os séculos dos séculos. Amém.”
[6] 13.2: “Pois foi ele que disse isto: "Sede misericordiosos para obterdes misericórdia. Perdoai para que sejais perdoados. Assim como fizerdes, assim vos será feito. Da forma como derdes, assim vos será dado. Do modo como julgardes, assim sereis julgados. Como fizerdes o bem, assim vos será feito. Com a medida que medirdes, também vos será medido em troca".”
46.8: “porque foi Ele quem disse: "Ai daquele homem! Melhor seria que não tivesse nascido do que escandalizar um dos meus eleitos. Mais lhe valeria amarrar uma pedra em seu pescoço e afundar no mar do que perverter um dos meus eleitos".”
[7] 5.2-7: “2Por ciúme e inveja foram perseguidos e lutaram até à morte as nossas colunas mais elevadas e retas.3Fixemos nossos olhos sobre os valorosos apóstolos:4Pedro, que por ciúme injusto não suportou apenas uma ou duas, mas numerosas provas e, depois de assim render testemunho, chegou ao merecido lugar da glória.5Por ciúme e discórdia, Paulo ostentou o preço da paciência.6Sete vezes acorrentado, exilado, apedrejado, missionário no Oriente e no Ocidente, recebeu a ilustre glória por sua fé.7Ensinou a justiça no mundo todo e chegou até os confins do Ocidente, dando testemunho diante das autoridades. Assim, deixou o mundo e foi buscar o lugar santo, ele, que se tornou o mais ilustre exemplo da paciência.”
[8] 25.1-4: “1Consideremos o sinal prodigioso que ocorre na região oriental, isto é, nas terras próximas da Arábia.2Aí existe um pássaro chamado fênix, único na espécie e que vive quinhentos anos. Quando está para morrer, ergue seu próprio sepulcro usando incenso, mirra e outras plantas aromáticas e, ao completar seu tempo, aí se introduz e morre.3De sua carne em decomposição nasce uma larva que se alimenta da matéria putrefata do animal morto e cria asas; quando se torna forte, levanta o sepulcro onde se encontram os restos de seu ancestral e carrega-o, voando da terra da Arábia até a cidade do Egito chamada Heliópolis.4E, em plena luz do dia, aos olhos de todos, transporta e depõe aqueles restos sobre o altar do sol; a seguir, retoma o vôo de volta.”
[9] 54.1-4: “1Quem, dentre vós, for nobre, compassivo e cheio de caridade,2diga: "se é por minha causa que há revolta, discórdia e cisma, eu me retiro, parto para onde quiserdes e faço o que for pedido pela comunidade, desde que apenas o rebanho de Cristo viva em paz com os presbíteros constituídos".3Quem agir dessa maneira obterá grande glória em Cristo e será recebido em toda a parte, "pois do Senhor é a terra e sua plenitude".4É isso o que fizeram e ainda fazem os que trilham, sem remorsos, o caminho de Deus.”
55.2-6 (exemplos): “2Conhecemos muitos dentre os nossos que se entregaram à prisão para resgatarem outros. Muitos se entregaram à escravidão para sustentar os demais com o dinheiro pago.3Muitas mulheres, fortalecidas pela graça de Deus, realizaram difíceis tarefas.4A bem-aventurada Judite, durante o cêrco da cidade, pediu aos presbíteros a permissão para se ausentar do acampamento dos estrangeiros.5Expondo-se ao perigo, saiu por amor à pátria e ao povo em cêrco. E o Senhor entregou Holofernes na mão de uma mulher.6Perfeita na fé, Ester expôs a si mesma num perigo não menor, para salvar da proximidade da morte as doze tribos de Israel. Pelo jejum e humilhação, suplicou ao Senhor que tudo vê, o Deus dos séculos. E este, vendo a humildade de sua alma, salvou o povo em favor daquela que se expusera ao perigo.”
[10] H.E.III.38.4.citado IN: Vielhauer, Philipp.História da literature cristã primitiva.Academia Cristã:São Paulo.pg.765.
[11] Köester,Introdução ao novo testamento, vol.2.,pg.255, entende que o escrito de 2Clem é foram produzido no Egito, com fins Anti-gnósticos. Quanto a origem de 2Clem, assim Köester se pronuncia: “Todas essas observações colocam 2Clemente diretamente no contexto de uma comunidade cristã do Egito que procura estabelecer sua própria religiosidade em obediência às palavras de Jesus contra um cristianismo gnóstico predominante nesse país.”op.cit.,pg.255.
[12] XI : “Portanto, sirvamos a Deus com o coração puro, para sermos justos; porém, se não o Servirmos, porque não cremos na promessa de Deus, seremos desgraçados, pois a palavra da profecia diz também: "Desgraçados os indecisos, que duvidam em seu coração e dizem: 'Essas coisas temos ouvido, inclusive nos dias de nossos pais; entretanto, temos aguardado dia após dia e nada temos visto. Estúpidos! Comparem-se a árvores; a uma vinha, por exemplo: primeiro, desprendem-se as folhas, logo sai um broto, depois vem o agraz e, por fim, as uvas maduras. Do mesmo modo meu povo passou por problemas e aflições; porém, depois receberá as coisas boas.””
V: “Portanto, irmãos, renunciemos nossa estadia neste mundo e façamos a vontade d'Aquele que nos chamou; não tenhamos medo de nos apartar deste mundo, pois o Senhor disse: "Sereis como cordeiros no meio de lobos". Porém, Pedro O contestou e disse: "O que ocorre, então, se os lobos devorarem os cordeiros?" E Jesus respondeu a Pedro: "Os cordeiros não precisam ter medo dos lobos depois de mortos. Vós também não deveis temer os que vos matam e nada mais podem fazer. Temei antes Aquele que, depois de tiverdes morrido, tem poder sobre a vossa alma e vosso corpo, para atirá-los na geena de fogo””.
VIII: “Eis o que o Senhor diz no Evangelho: "Se não guardastes o que era pequeno, quem vos dará o que é grande? Pois eu vos digo: o que é fiel no pouco, é fiel também no muito”.
XII: “Deste modo, esperemos o reino de Deus, hora após hora, com amor e justiça, já que não sabemos qual será o dia da aparição de Deus. Eis que o mesmo Senhor, quando certa pessoa lhe perguntou quando viria o seu reino, respondeu: "Quando os dois forem um, quando o que estiver fora for como o que estiver dentro, e o varão for como a mulher, não havendo nem varão, nem mulher”. Pois bem: os dois são um quando dizemos a verdade entre nós e entre dois corpos haverá apenas uma alma, sem divisão. E, ao dizer que o exterior será como o interior, quer dizer isto: o interior é a alma e o exterior é o corpo; portanto, da mesma maneira que aparece o corpo, se manifesta a alma em suas boas obras. E, ao dizer o varão como a mulher, nem varão, nem mulher, significa isto: que um irmão ao ver uma irmã não deveria pensar nela como sendo sua mulher e que uma irmã ao ver um irmão não deveria pensar nele como sendo seu homem. Se fizerdes estas coisas - diz Ele - logo vira o reino de Meu Pai.”” (EvTom 22).
[13] Início de 2Clem: “Irmãos: deveríamos pensar em Jesus Cristo como Deus e Juiz dos vivos e dos mortos. Não deveríamos, ao contrário, pensar em coisas medíocres sobre a salvação pois, quando pensamos em coisas medíocres, esperamos também receber coisas medíocres. Os que escutam que estas coisas são medíocres fazem mal; e nós também fazemos mal não sabendo de onde e por quem e para onde somos chamados, e quantas coisas tem sofrido Jesus Cristo por nossa causa. Que recompensa, pois, Lhe daremos? Ou qual fruto de Seu dom poderá nos ser dado? E quanta misericórdia Lhe devemos! Eis que Ele nos concedeu a luz; nos chamou como um pai chama seus filhos; nos salvou quando estávamos morrendo... Que louvor Lhe rendemos? Ou o que foi pago de recompensa pelas coisas que temos recebido, já que éramos cegos em nosso entendimento; rendíamos culto a paus e pedras, a ouro, prata e bronze, obras humanas; e toda a nossa vida não era outra coisa que a própria morte? Assim, pois, quando estávamos envolvidos nas trevas e oprimidos em nossa visão por esse espesso nevoeiro, recobramos a vista e pusemos de lado, por Sua vontade, a nuvem que nos encobria. Ele teve misericórdia de nós! Em sua compaixão nos salvou, pois nos vira mergulhados no erro e na perdição, quando não tínhamos esperança de salvação, exceto a que vinha d'Ele! Ele nos chamou quando ainda não éramos; e do nosso não ser, quis Ele que fôssemos.”
Final de 2Clem: “Não permitas tampouco que isto perturbe a tua mente: ver os ímpios possuírem riquezas e os servos de Deus sofrerem apertos. Tenhamos fé, irmãos e irmãs! Estamos lutando nas fileiras de um Deus vivo; recebemos treinamento na vida presente para que possamos ser coroados na [vida] futura. Nenhum justo recolheu o fruto rapidamente, mas espera que este chegue. Porque se Deus desse imediatamente a recompensa aos justos, então nosso treinamento seria pago de forma comercial, e não conforme a piedade, porque não seríamos justos em razão da piedade, mas por causa da ganância. E por isso o juízo divino alcança o espírito daquele que não é justo, e o acorrenta.
- Ao único Deus invisível, Pai da verdade, que nos enviou o Salvador e Príncipe da imortalidade, por meio do qual Deus também nos manifestou a verdade e a vida celestial: a Ele seja a glória pelos séculos dos séculos. Amém.”
[14] 19.1 nos dá maiores detalhes sobre esse sermão: “Portanto, irmãos e irmãs, após ouvir o Deus da verdade, leio-vos uma exortação a fim de que possais prestar atenção às coisas que estão escritas, para que possais salvar-vos a vós mesmos e aos que vivem no meio de vós.”
[15] 2Clem 3.5 = Is.29.13 (Mc.7.6;Mt.15.8); 2Clem 7.6 = Is.66.24b (Mc.9.48); 2Clem 14.1 = Jr.7.11a (Mt.21.13).
[16] Sobre essa provável coleção de ditos do Senhor, assim diz Köester,op.cit.,pg.254: “As palavras de Jesus citadas na carta pressupõem os Evangelhos do Novo Testamento de Mateus e Lucas;elas provavelmente foram extraídas de uma coleção harmonizada de ditos que fora composta com base nesses dois evangelhos.”.
[17] Köester observa que a hipótese de uma origem desse escrito em Corinto não é compatível com esse silenciamento quanto ao corpus paulinum, uma vez que ali as cartas de Paulo eram bem conhecidas. Em contra-partida, indica a hipótese do Egito como provável origem de 2Clem, uma vez que essa explicaria o tal silêncio em relação à Paulo.op.cit.,pg.255.

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